[Resenha] Ecos - Pam Muñoz Ryan

Olá queridos como estão?

Hoje trago pra vocês a resenha desse livro que me fez ouvir blues, suspirar e sentir muita esperança no decorrer das páginas. Foi uma leitura muito proveitosa e que superou todas as minhas expectativas e as da Raquel. Esse foi o segundo livro que lemos no nosso Buddy Reads e foi maravilhoso. 

O livro é dividido em quatro contos que se passam mais ou menos no mesmo período. É uma linha temporal que começa no primeiro e vai até o último, e o que liga tudo é a gaita, instrumento musical que será simbolo de muitas coisas no decorrer da estória.

Tudo começa com uma fábula, uma profecia e três irmãs aos cuidados de uma bruxa na floresta. A fábula logo de cara te envolve nessa energia magica que todo conto de fadas tem, inclusive começa com "Era uma vez..". 

O rei e a rainha estão esperando um herdeiro que precisa ser homem para cuidar do reino, porém é concebido uma menina e o rei com medo de perder o reino para o irmão pede a parteira que leve a menina até a floresta e a deixe para morrer. A parteira leva a criança porém se sente na obrigação de protege-la, então a leva para a casa de uma parente sua (que também é uma bruxa) no meio da floresta para que ao menos a criança viva mas antes lhe lança uma profecia.

"Seu destino ainda não está selado. Até na mais sombria noite uma estrela brilhará, um sino soará, um caminho será revelado." - Pag 8

A família real é agraciada pelo nascimento de mais duas filhas que tem o mesmo fim que a primeira até o nascimento de um menino que acontece e salva o reino nas mãos do irmão do rei.

Anos se passam, as moças crescem e ambas tem o dom da música, quando cantam a natureza parece parar para escuta-las. Ainda trabalham para a bruxa preguiçosa porém sempre se apegam a profecia que lhes foi recitada pela parteira. 

Chega um tempo em que o rei morre e a parteira se sente na obrigação de contar a mãe e ao menino que existem mais membros da família. É solicitado que a parteira vá buscar as meninas, agora moças, na floresta. 

Porém a bruxa se sente injustiçada pelas moças por querer abandona-la depois de te-las ajudado a sobreviver e furiosa lhes lança uma nova profecia prendendo as três irmãs em um instrumento musical.

"Chegaram aqui por uma mensageira, devem partir da mesma maneira. De forma humana não sairão. Seus espíritos como o vento soprarão; Salvem uma alma à beira da morte ou aqui definharão à própria sorte." - Pag 17.

E assim nós é contado a fábula, por meio de Otto, uma criança que se perde na floresta apenas com uma gaita e seu livro contendo a estória das três irmãs.  Aqui a fábula se mescla com a realidade de Otto quando desorientado na floresta é ajudado por três moças que querem saber o final do livro. 

Otto lê para as três irmãs e chega até o ponto que estão vivendo agora, logo  concluem de que a estória ainda não teve seu fim e as três irmãs oferecem ajuda á Otto, em troca o menino terá que ajudar as moças encontrarem a conclusão de suas vidas.

Este é o pontapé inicial da gaita de Otto, o mensageiro e sua viagem para cumprir uma profecia e salvar mais que três vidas.

"Ele nunca se esqueceu de que a jornada delas para salvar uma alma no instante da morte só começaria depois que ele mandasse a gaita mundo afora... quando chegasse a hora."

Conto Um, Outono de 1933

Neste conto conhecemos Friedrich Shmidt, um menino alemão que trabalha desde muito novo em uma fabrica de gaitas. Mas nem sempre foi assim, antes ele era uma criança normal que frequentava a escola, porém outros alunos batiam e o xingavam por ter uma mancha escura cobrindo uma boa parte de seu rosto. Até os professores o tratavam de maneira ignorante e como se Friedrich tivesse problemas mentais.

Seu pai o tirou da escola e decidiu ensina-lo por conta própria, pediu ajuda do pessoal que trabalhavam com ele e o resultado foi: trabalho verificando gaitas, aulas com alguns dos funcionários e tarefas todos os dias para que o menino conseguisse passar em um bom colégio.

Um dia Fried encontra em meio a arquivos da fabrica uma gaita velha a qual chama sua atenção de maneira surreal. O instrumento o faz sentir uma sensação de paz e possibilidades. Os sonhos de Friend agora estão mais vivos que nunca, apesar das adversidades.

"Música não tem raça nem qualquer inclinação!", disse papai. "Todos os instrumentos têm uma voz para contribuir. Música é uma linguagem universal. Uma especie de religião universal. Com certeza é a minha religião. A música supera todas as distinções entre as pessoas." - Pag. 61

O cenário não é dos melhores, Hitler esta sendo nomeado chancelar da Alemanha e introduzindo o começo de seu governo. Até a irmã de Friedrich se torna uma mulher nazista botando a própria família contra a parede para engolirem o "patriotismo" de Hitler.

As coisas começam a ficar difíceis, com o exercito cada vez mais severo Fried e seu pai terão que tomar cuidado para que o nazismo não afete suas vidas. 

Esse foi o conto que achei mais impactante, pelo fato da irmã de Fried. Fiquei pensando em como foi naquela época para pessoas que simplesmente não queriam fazer parte daquilo tendo os próprios membros da família incentivando a politica extremista de forma tão normal. O pior é saber que isso foi uma realidade e que muitas pessoas sofreram por não aceitarem ou não preencherem os requisitos de uma Alemanha pura.

Conto Dois - Junho de 1935

Neste conto conhecemos os irmão Mike e Frankie que moram em um orfanato nos Estados Unidos. Sua mãe morreu quando eram pequenos e foram criados pela avó que dava aulas de música para sustentar a casa. Porém com o cenário econômico cada vez mais precário muitas das famílias cortaram de seus orçamentos gastos não necessários, mesmo sem dar aulas nada tirava o sorriso do rosto dessa família, até a avó adoecer e precisar procurar um orfanato para seus neto.

Antes de deixa-los, a avó dos meninos garantiu que eles só seriam adotados se fossem os dois juntos. Porém sabemos que, quando mais velha a criança, mais difícil é a adoção (é tão triste falar disso no presente), então somos obrigados a virar quase uma torcida organizada para que Mike e Frankie não se separem.

"Mike sacudiu as rédeas e o cavalo andou para a frente. Rato estava certo. Sempre havia uma guerra em alguma parte do mundo. E Mike tinha a própria: Lutar por Frankie." - Pag. 148

Até que Howard aparece, buscando uma criança musical para adotar, ele pede que se tiver crianças que saibam tocar ele gostaria de conversa com elas. Mike e Frankie são chamados e tocam uma melodia emocionante no piano, porém Howard só poderá levar um deles. 

O cenário aqui é mais voltado para algumas consequências do crise econômica de 1929 (ou a Grande Depressão) onde para reaver o equilíbrio econômico jovens e crianças muitas vezes orfãs, eram mandadas para o campo para produzir e fazer com que as coisas normalizassem.

Esse foi o meu conto favorito do livro. Foi emocionante acompanhar a busca dos personagens e o mais importante, não deixarem nunca a esperança morrer. Outro motivo foi que este conto teve menos elementos dramáticos, e foi aqui que comecei a ler ouvindo blues haha <3

Conto Três - Dezembro de 1942

Aqui conhecemos Ivy e sua família que vivem em Fresno, Califórnia. A menina esta feliz, tem uma melhor amiga e esta se preparando para togar gaita com a banda da escola na radio local, e ela irá fazer o solo principal. Sua melhor amiga e ela mantem uma relação quase de irmãs e sempre que podem se encontram para brincar.Tudo parece perfeito quando o pai de Ivy tem uma proposta de trabalho em outra cidade e a família tem que partir no outro dia. 

A Segunda Guerra esta acontecendo e Estados Unidos e Japão estão em conflitos, dessa forma as famílias residentes do país americano são forçadas a se mudarem para centro de alta segurança por ação preventiva do governo contra traições. A família de Ivy será encarregada de cuidar das terras de uma família de japoneses até a soltura deles, em troca receberão parte das terras.

A família toma conta da fazenda como se fosse deles, e até Ivy se sente comovida a ajudar, porém outras pessoas da redondeza estão de olho nas terras e farão de tudo para conseguir a pose.

"Os corações estão feridos. Indivíduos que costumavam ser amigos não são mais. Vizinhos não são vizinhos. Durante uma guerra, as pessoas acham que precisam escolher um lado e jogar a culpa no outro. Os corações ficam menores." - Pag. 310

Enquanto isso também vemos o envolvimento de Ivy com uma nova amiga, uma nova escola que separa os alunos (para crianças estrangeiras e outra para crianças americanas) e a banda da escola nova que irá introduzir Ivy aos instrumentos de sopro.

Neste conto encontrei uma realidade da qual ainda não tinha parado para pensar, sobre como o Sonho americano não era tão puro nos períodos de guerras ou como as pessoas mestiças eram tratadas nesses conflitos.

Conto Quadro - Abril de 1951

Neste conto é onde vamos descobri os destinos dos personagens dos contos anteriores. Como os finais são deixados em aberto, só vamos saber o que realmente acontece lendo o livro até o final. Eu achei bem legal isso e confesso que no primeiro conto eu fiquei em choque com o final, no segundo também e no terceiro eu já estava ficando brava hahaha mas o quarto conto esta ai para nos ensinar que a esperança é a última que morre até lendo um livro!

Como tudo começa com a fabula, é esperado que esta também tenha um final e a Pam conseguiu inserir um desfecho rico e emocionante, digno de contos de fadas.

Opinião Geral

Se você espera encontrar um conto de fadas fofo, não é por ai. Ecos nos trás uma fantasia dark onde o drama esta presente em quase todas as páginas, mas o mais legal é que isso não te deixa pra baixo, a forma como a narrativa é feita nos obriga a sentir esperança e se apegar na ideia que tudo vai dar certo haha.

Uma das coisas que eu mais gostei no livro foi o fato de mesclar fatos históricos e cenários econômicos da época, isso só enriqueceu ainda mais a leitura, pois em cada conto nos é apresentada uma realidade diferente de tempos difíceis.

A leitura é regada de expectativa, não tem como ler sem esperar pelo melhor e a narrativa é bem intima já que é feita pelo próprio personagem. Os personagens são um outro ponto positivíssimo do livro pois a autora conseguiu estruturar cada um deles mostrando suas características na própria narrativa.

Edição

O livro de longe já chama a atenção com toda essa cor que ele possui e não é a toa, a Darkside caprichou e muito em cada detalhe de Ecos. As folhas são amareladas e mais grossinhas do que um livro comum, a diagramação esta impecável e não achei nenhum erro durante a leitura.

Recomendo a leitura para quem, assim como eu ama contos de fadas, gosta de livros com um fundo histórico e esteja preparado para exercitar essa tal esperança.

Considerações da Raquel

Geralmente eu não gosto muito de começar um livro com as expectativas batendo no teto, porque a decepção tende a ser maior. Ecos foi a exceção em tudo. Eu iniciei a leitura com muitas expectativas (embora elas estivessem menores do que quando comprei) e ele as atendeu com esmero. 

Ecos foi uma fábula que fez meu amor por música aumentar, e senti-la de uma forma totalmente nova, através da escrita. Pam nos envolve com sua escrita sensível e lúdica, nos levando por cenários cruéis e assustadores através dos olhos de nossos três pequenos protagonistas. Todos eles passam por fases complicadas em momentos históricos muito difíceis, mas é lindo vê-los manter a esperança pela arte que os liga, a música.

Nota:

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E é isso pessoal, espero que tenham gostado da resenha, me contem se já leram esse livro! 

Nosso próximo Buddy Reads é o The Kiss Of Deception <3 Estamos com altas expectativas também haha

Um até logo e beijos de luz,